quinta-feira, 30 de julho de 2009

Uma mansão vitoriana

Uma mansão vitoriana

A uma escala não humana

Com as dimensões de uma catedral

Cada divisão uma nave

Esmagadoramente ampla

Esparsamente mobilada

E a mobília também a uma escala errada

Demasiado pequena

Mobília de uma escola

Para crianças ou anões

Também as paredes estão pobremente decoradas

Um quadro aqui, um quadro ali,

E a uma altura desconfortável

O pescoço dói

Se os tentarmos observar.

Mas tanto os quadros como a mobília

Estão cobertos por panos

Que de brancos que já foram

São agora de um cinzento bafiento

Com o tempo que passou

E os quadros e a mobília

E o chão das divisões e dos corredores

E até as paredes

Estão cobertos por camadas geológicas de pó

Verdadeiros depósitos sedimentares

Uma figura vagueia sem rumo

Absorvida em coisa nenhuma

Os seus passos que ressoam cavos

Despoletam ecos que reverberam e se ampliam e se multiplicam

Dando a ilusão de multidões que deambulam

A casa está assombrada

Mas não por um fantasma localizado

Antes por uma presença difusa mas omnipresente

Tão prevalente como

O próprio ar que se respira

Um fantasma que exerce pressão sobre a pele

Que penetra pelos poros desta até à carne e aos ossos

Que penetra pelas vias respiratórias e que afoga

E que circula com o sangue e que infiltra todo o ser

Até que a nossa substância se dilui na dele

É o fantasma de um grande amor

Um amor não correspondido, nem sequer reconhecido

Alguém que nem sequer sabia

Que quem o amava sequer existia

Ou pelo menos não o admitia

Uma presença avassaladora

Opressiva e invasiva

Que nos preenche com o seu desdém.

Alguém que nos enche

Com o quanto não quer saber de nós.

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