Uma mansão vitoriana
A uma escala não humana
Com as dimensões de uma catedral
Cada divisão uma nave
Esmagadoramente ampla
Esparsamente mobilada
E a mobília também a uma escala errada
Demasiado pequena
Mobília de uma escola
Para crianças ou anões
Também as paredes estão pobremente decoradas
Um quadro aqui, um quadro ali,
E a uma altura desconfortável
O pescoço dói
Se os tentarmos observar.
Mas tanto os quadros como a mobília
Estão cobertos por panos
Que de brancos que já foram
São agora de um cinzento bafiento
Com o tempo que passou
E os quadros e a mobília
E o chão das divisões e dos corredores
E até as paredes
Estão cobertos por camadas geológicas de pó
Verdadeiros depósitos sedimentares
Uma figura vagueia sem rumo
Absorvida em coisa nenhuma
Os seus passos que ressoam cavos
Despoletam ecos que reverberam e se ampliam e se multiplicam
Dando a ilusão de multidões que deambulam
A casa está assombrada
Mas não por um fantasma localizado
Antes por uma presença difusa mas omnipresente
Tão prevalente como
O próprio ar que se respira
Um fantasma que exerce pressão sobre a pele
Que penetra pelos poros desta até à carne e aos ossos
Que penetra pelas vias respiratórias e que afoga
E que circula com o sangue e que infiltra todo o ser
Até que a nossa substância se dilui na dele
É o fantasma de um grande amor
Um amor não correspondido, nem sequer reconhecido
Alguém que nem sequer sabia
Que quem o amava sequer existia
Ou pelo menos não o admitia
Uma presença avassaladora
Opressiva e invasiva
Que nos preenche com o seu desdém.
Alguém que nos enche
Com o quanto não quer saber de nós.
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